As soluções de investimento
que os clientes procuram (e precisam)
As soluções de investimento que os clientes procuram (e precisam)
Se durante alguns anos as bancas privadas se viram a braços com um paradigma desconcertante de taxas de juro muito baixas, em que o leque de alternativas se teve de abrir por via da incessante busca por rentabilidade, este alterou-se com as taxas a subirem, e o rendimento fixo a aparecer com um glow up. E agora, que soluções querem os investidores ou, no final do dia, o que é que precisam e faz sentido nas suas carteiras?
Do Abanca existe a consciência de que o contexto vivido nos últimos tempos tem guiado os clientes para soluções que são, sem dúvida, mais conservadoras, onde se incluem as de balanço, money market e obrigações. Contudo, não são as únicas, e há até uma certa “bipolaridade” na procura, pois as das estratégias mais defensivas digladiam-se com o apetite por estruturas de equity com underlyings, por vezes, muito agressivos.
“Notamos uma ascensão muito grande de estruturas tailor made, ou seja, os clientes querem atuar muito em cima de market momentum e fazemos isso através de produtos estruturados, com ideias muito específicas, algo que seja muito conciso, em cima do que o mercado oferece”, explica Ana Nobre.
A mesma perspetiva é partilhada pelo Bankinter: a componente de aproveitamento de taxa de juro existe, nomeadamente através de depósitos, enquanto na lógica de investimentos é reportado por Pedro Lobo “um ano que foi muito forte na parte obrigacionista e em várias soluções buy and hold, também”. Na parte acionista, por sua vez, nota que “houve uma procura maior e natural pelo setor tecnológico, em concreto pelas sete magníficas”.
Do Banco Carregosa, houve necessidade de contextualizar e lembrar que os últimos tempos ficaram marcados por dois momentos. Um momento prolongado de taxas de juro baixas - que fez com que as entidades fossem obrigadas a procurar soluções que proporcionassem rentabilidade -, e, posteriormente, um outro momento, o de inversão da tendência das taxas de juros. “A partir do momento em que os Bancos Centrais deram início a uma subida das taxas de juro, que se mantiveram baixas e estáveis durante muito tempo, passou a existir maior apetência pelo mercado obrigacionista e, portanto, isso veio atenuar um movimento de exposição a mais risco, nomeadamente no mercado de ações, dinamizando novamente o mercado de dívida com bastante expressão, o que não acontecia há bastante tempo, em concreto posições de buy and hold”, relata Bruno Monoya Perez.
Alternativos: compromisso e compreensão
Tal como os anteriores colegas de painel, também o profissional do Banco Carregosa atesta a importância que têm tido as soluções tailor made, nomeadamente de mandatos de gestão e de mandatos de consultoria personalizados, em concreto com enfoque em produtos de investimento alternativo onde se englobam os fundos de capital de risco, private equity e fundos imobiliários temáticos.
Embora as taxas de juro estejam paulatinamente a descer, a verdade é que os alternativos aparecem nomeados como uma solução de investimento que também veio para ficar. Como assinala António Luna Vaz, do BPI, as taxas não ficarão para sempre muito baixas e, portanto, estratégias de investimento em mercados privados continuarão a fazer sentido, até por causa das caraterísticas que promovem. “O tema da liquidez e das capital calls é complicado nos investimentos de private equity, mas há um tema de alinhamento forte de interesses do cliente neste tipo de oferta. Ele tem maior visibilidade onde o seu dinheiro está investido. Adicionalmente a gestão está muito comprometida com o investimento que faz, uma vez que também são investidores. Não é a mesma coisa que fazer a recomendação de um fundo de investimento”, exemplifica.
Na mesma lógica, Pedro Lobo realça como os investimentos alternativos, como um todo, considerando as várias vertentes - private equity, venture capital, real estate, etc. - podem manter-se na lista de opções dos clientes no presente e no futuro. “São excelentes veículos de proteção contra a inflação. Tipicamente são contratos contra a inflação, seja de logística, seja de real estate, seja em muitas outras dimensões. Depois existe a questão do compromisso: o compromisso do cliente é total, pois no caso do Bankinter não existe nenhum veículo que seja estruturado dentro desta área, em que não sejamos o principal investidor, em igual medida de risco e retorno, como qualquer cliente”.
O mesmo acontece no Banco Carregosa. Bruno Minoya Perez relata que ao longo dos últimos anos têm vindo a desenvolver uma oferta mais vasta no campo dos produtos alternativos, sentindo que o compromisso que a entidade coloca nesses investimentos é imprescindível. “Os clientes sentem que não estamos a gerir só para terceiros, estamos sim a gerir também para nós porque temos lá o próprio capital da entidade investido”, indica.
Eficiência fiscal: must have
Relembrando a recente alteração feita pelo governo relativamente à tributação dos investimentos de longo prazo, Ana Nobre deixou a nota do que esse movimento pode trazer no futuro. “Podemos vir a assistir a algumas mudanças no mercado, possivelmente até no que toca à hegemonia dos unit linked. Vamos ver como é que os clientes e a própria indústria vão acomodar esses pontos de otimização fiscal, em que quanto maior o prazo de detenção do investimento maior o benefício fiscal. O legislador quer, claramente, empurrar os clientes para o aforro de médio e longo prazo”, sublinhou.
Ora, precisamente a eficiência fiscal é resumida por António Luna Vaz como o ponto-chave das necessidades do cliente. “De uma forma geral, um cliente tradicional de private banking tem uma expectativa de rentabilidade entre 4% e 5%, independentemente do nível de taxas de juro. Mas o tema da eficiência fiscal é cada vez mais relevante no processo de decisão de investimento por parte dos clientes”, revela. Nesse sentido, salienta que no BPI todas as soluções que se possam dar ao cliente “nunca são tidas em conta sem integrar o tema da eficiência fiscal”. O profissional relata também que têm criado formas de o cliente intervir na gestão do seu património, mas dentro de um espaço em que essa tal eficiência fiscal não é descurada, como resposta às necessidades dos clientes na gestão partilhada dos seus investimentos.